A arte cura. Um alento para um início de tarde cinza – Por Escalafobética

02/05/2023

Teatro de Caixa: Caixa de Poesia Leminski

Montagem: Coletivo de Animadores de Caixa 

Escalafobética[1]

Um casarão antigo, localizado na Travessa. 16 de novembro, ainda sobre os domínios do bairro da Cidade Velha, em Belém do Pará.

Ao chegar no portão, ainda desanimada, entristecida por ter sido mais uma vez vítima de um furto, cujo objeto foi o cadeado que fecha a corrente do portão do lugar onde resido e como eu tinha que sair, deixei meu bem mais precioso lá, minha filha, por mais que eu soubesse que logo ela estaria na companhia do pai, essas questões, dilemas e preocupações rondavam minha mente sugando minha energia.

Então, ao chegar, na frente do Casarão do Boneco, um lugar representativo, um herói encravado, no emblemático bairro da cidade velha, em Belém do Pará, que resiste bravamente a todas as intempéries, ao tempo e aos inimigos da arte. Lá é um refúgio, um lugar de uma energia peculiar.

Parada, diante no portão, um tanto duro de abrir, para mim, eu chateada, arrastada pela força de um sonho que estou resgatando, olho para frente vejo as escadas e a entrada principal fechada, mas escuto uma música, suave.

Na lateral, uma entrada secreta, um mestre de cerimônia me espera (professor Edson Fernando), faz sinal para que eu entre; eu obedeço, ali, tem um jardim, um banco, uma mesa de canto pequena, um incenso agradável; o mestre sorri, e convida-me para sentar; eu obedeço, sento, ele pergunta você gosta de poesia?, eu respondo positivamente, e informo também que gosto tanto que escrevo desde pequena; o mestre continua e fala sobre o poeta "Paulo Leminski", pede para que então eu escolha uma carta, eu obedeço.

Tiro a carta, a que vem pra mim contém a figura de um lindo jardim, verde, repleto de flores. Logo em seguida ele pede que eu, de acordo com o número da carta tirada, olhe na caixa pelo orifício do recipiente correspondente ao número; eu obedeço, então:

Paulo Leminski me diz: "SER O QUE SE É E IR ALÉM".

Uma surpreendente dose de conforto e devaneio no cinza daquela minha realidade de alguns minutos antes.

O som, o cheiro, a palavra que me vem à mente é TERAPÊUTICO.

É uma performance? sim, tem preparação, tem objetivo, tem ator, tem espectador que também é levado a participar da performance/experiência.

Tem cenário: o próprio jardim, a entrada pela lateral.

Os objetos de cena: a caixa, as cartas, o enredo.

O sensorial: a música, o incenso tudo faz parte da magia e consegue nos levar, a mim conseguiu.

A segurança do artista/ator/mestre de cerimônia, que sutilmente, generosamente, sobretudo conduz a cena, quer dizer a experiência mostrando onde começa e onde termina.

Sobretudo é simples.

Viva a poesia, Leminski, as poetizas, Fernando Pessoa, a todos que no seu particular, deixam-se transbordar em palavras.

A poesia e a arte me curam, sempre foi assim.

02 de maio de 2023

[1] Participante da Oficina de crítica teatral "Exercícios de escrituras" – projeto TRIBUNA DO CRETINO.

Ficha Técnica:

Caixa de Poesia Leminski

Encenação e Atuação:

Edson Fernando

Suporte:

Amor

Edson Fernando

Arte Externa:

Aníbal Pacha

Patrocínio:

O Bolso dos Idealizadores

e mais ninguém!!!