A Sinuosidade da Literatura Corporal – Por Ivana Matos
Montagem teatral: Marahu
Montagem:
Cia de Teatro Madalenas.
Ivana Ignêz Barbosa de Matos[1]
Corpos de pássaros
Corpos de vento
Será que são aves
Ou poemas serenos?
Difícil saber.
Como plateia dessa natureza montada, não via a hora de armar minha rede na varanda de casa. Um barraco de madeira na beira do Marahu, onde as nuvens do céu não escondem o azul. Em que até os cajados fincados no chão apontam para as estrelas com precisão.
A água derrama
A água chia
É barulho de praia
Ou percussão na coxia?
Não sei.
O frio causado pelos instrumentos foi tão real quanto a chuva lá fora, assim como o silêncio quebrado pelas notas. Que num fechar de olhos ligeiro foi possível até sentir o cheiro
Da água
Do Vento
Da concha
Madeira e Areia
Da poesia refletida no corpo
Passando por cada membro
Em feixe de luz
Como bronzeamento
Palavra por palavra
Que logo depois são de fato tocadas
Por esboços de caneta na pele molhada
Nua
Crua
Exposta
Serão livros de carne humana
Ou poetas de página e osso
Que levam a cada frase narrada
O arrepio até a espinha do dorso?
Definitivamente
Não
Sei.
Meus sentidos de mulher peixe estão para além da beira-mar, não são escritas na areia que a água se põe a levar. São atentos para os sinais dos mais variados cantos, por isso é que não entendo como funciona esse encanto.
Serão os versos compartilhados em miúdo
Pelo artista e o público
A
P
R
O
F
U
N
D
A
N
D
O a parte
De experimentação da arte?
Ou a miscelânea que compõe a estética?
Hibridismo espiritual da palavra ao poeta
Transitando na música, na luz e no odor
O conjunto da obra no mais suado labor.
Muitas perguntas já não quero fazer
É perda de tempo desvendar o porquê
Parece até aquele costume incompressível
De ser humano ver felicidade
E achar que é bicho esquisito
Sentir um negocinho acolá
E querer explicar
Pelo menos tentar
Porque explicação de verdade
É tudo uma invenção
O certo não é absoluto
E especular também não.
Nesse vai e vem de palavras
Que brotam na minha cabeça
A rima vai ficando tonta
Enquanto a ideia meio bêbada
Prefiro apreciar quieta o sentimento da lembrança
O que vai continuar comigo pra todo canto que eu for
Não ficar apenas no papel, livro ou computador.
Se um dia me perguntarem sobre o poeta paraense, certamente farei todo esse suspense, esse lance subjetivo que a peça nos invoca, revirando o olfato e tudo que está em volta. Li alguns poemas e poucos livros fui além (ainda), mas sei da beleza que cada verso contém. Estrofes carregadas de um universo inteiro, não foi à toa escolhera ilha do mosqueiro. Não foi à toa ter rimado até aqui, através da sinestesia e a autonomia de produzir. Perambulando incessante por entre letras flutuantes
Vocábulos flexíveis à norma
Indiferentes da natureza da forma
Imposta
Que sufoca
A arte
O pensamento
E a liberdade
Deus nos livre da repressão da linguagem!
Agora devo ir embora, mas recuso me despedir
Nego esquecer a vivência de tudo que aprendi aqui
Na superfície.
Voltando para as ondas que se movimentam ao longe
Posso ouvir o horizonte cantarolar meu nome
Do pensamento a reflexão que levo
Estar a seguir nestes versos:
Quem sentiu foi o corpo
A carne absorveu
Poesia que toca na alma
Max Martins aprendeu.
2 de abril de 2018.
[1] Estudante de
Jornalismo da Universidade Federal do Pará (UFPA); Participante do Minicurso de
Crítica Teatral "Por uma Crítica Menor".
Ficha Técnica:
Montagem teatral:
Marahu
Cia. de Teatro Madalenas.
Elenco:
Cleber Cajun, Leonel Ferreira e Marta Ferreira.
Direção Musical:
Diego Vattos.
Direção e Edição de Vídeos:
Carol Abreu.
Iluminação:
Thiago Ferradaes.
Figurinos:
Nete Ribeiro.
Dramaturgia:
Saulo Sisnando.
Coordenação Geral:
Leonel Ferreira.