Dicionário da leitura/espetáculo – Por Mayara Lourenço
Leitura/Espetáculo: Lapsus
Montagem: Cia2 de Teatro
Mayara Lourenço[1]
Lap.sus: Breves momentos que um pai esquece de algo que deveria lembrar, ou será que não quer lembra?
Sala quatro, 17:00 horas de uma tarde de sol em Belém. Fui de penetra assistir a essa apresentação que seria somente para a turma do curso técnico em ator da Escola de Teatro e Dança da UFPA; já tinha assistido umas duas vezes antes esse espetáculo. Na primeira vez, o texto estava na fase de construção. Na segunda vez, foi na Semana do Calouro, onde quase não se parecia com o texto que me foi lido a meses atrás e agora a última vez (mas não a última de verdade).
Os dois personagens, o pai e o filho, de frente um para outro, sentados em cadeiras de balanço, com o texto em mãos, pude até notar que agora havia figurino, que antes não tinha, ao lado da cadeira do pai só tinha uma maleta marrom e uma caixinha de som, que foi usada em alguns momentos com músicas leves e melancólicas, ajudando na imersão da leitura/espetáculo.
O cenário é simples, mas o texto é forte e bem dramático, mesmo que o caráter duvidoso de um dos personagens fique bem evidente ao público, o mesmo não deixa de sentir compaixão e pena, assim levando quase todos para uma onda de choro que não termina quando o espetáculo se encerra. Em alguns momentos a uns flashbacks onde os atores trocam de personagens e se levantam das cadeiras. Devo admitir que no decorrer do espetáculo a disposição do palco não permite que tenhamos uma visão completa da cena, fazendo com que o olhar ficasse indo de um lado para o outro, mas nada que impeça que seja fluida, tanto que quase não se nota a leitura do texto.
A leitura/espetáculo aborda alguns temas como: o câncer da mãe que vê o filho sendo rejeitado e expulso de casa; o pai com Alzheimer que, acredito eu, sempre esteve doente, com o seu preconceito diante da sexualidade do filho, assim trazendo para a sua família a pior das doenças que é a homofobia; mas também fala sobre paternidade, amor e perdão que impacta a todos que assistem. Não importa quantas vezes se veja, a emoção sempre toma conta, isso fica bem claro no momento final quando há uma pequena desmontagem, então vemos o público se expondo e contando suas próprias histórias que podem colidir ou não com as histórias dos personagens.
O texto, inspirado no filme "Meu Pai", é sensível, marcante e reflexível e terá mais uma apresentação no dia 26 de maio na casa dos palhaços, indico a todos!
Belém, 22 de maio de 2023.
[1] Graduanda do Curso de Licenciatura em Teatro; Atriz e palhaça; Participante da Oficina de crítica teatral "Exercícios de escrituras" – projeto TRIBUNA DO CRETINO.
Ficha Técnica:
Dramaturgia:
Mario Zumba
Atuantes:
Mario Zumba e Marton Maués
Direção:
Marton Maués