É musical que tu queres, pequeno? Espia! - Por Hudson Andrade
Musical: O Grande Show.
Montagem: Mirabolante Maquinário de Teatro
Hudson Andrade [1]
Existe uma palavra pra definir O Grande Show, espetáculo da Mirabolante Maquinário de Teatro, dirigido por Erllon Viegas: Coragem.
Baseado no filme O Rei do Show (The Greatest Showman, EUA, 2017, direção: Michael Gracey), esse é outro trabalho que busca garantir em Belém espaço para o teatro musical. Mais um motivo pra falar em coragem.
Ouvi da Cláudia Raia que lá no começo dos musicais no Brasil ela contratava qualquer pessoa que cantasse "parabéns pra você" e o elenco dançava se enrolando nos cabos dos microfones. Não duvido, não. Difícil investir no novo, na mudança, no incerto; imagina o povo falando que "quem é que vai gostar dessa coisa de gringo". De certa forma é mesmo. Por mais que os artistas brasileiros deem o seu "quê", sempre haverá aquele american way to do! Isso pode criar tanto barreiras quanto abrir portas. Mas voltemos.
Por ser baseado num blockbuster do cinema americano, O Grande Show segue a cartilha em sua estrutura dramatúrgica e que fique claro que isso não é exatamente um problema, mas pode ser um limitante, uma vez que os blockbusters americanos tem se mostrado bem rasos, dramaturgicamente falando. O roteiro da peça, por isso, é simples, sem grandes reviravoltas ou emoções, previsível e, como li sobre o filme, açucarado. Sendo um musical - pelos quais sou apaixonado - o ponto forte são os números musicais. Não vi o filme, mas percebo que as canções - que dividem a crítica em maravilhados e saturados - foram muito bem transpostas para o português. Isso é fantástico, porque não basta traduzir a letra da canção, mas ajustá-la à melodia, que no espetáculo recorre ao playback, sendo cantada por parte do elenco.
Há fragilidades em O Grande Show: a cenografia, o figurino - sobretudo no que se refere aos atores que interpretam mais de um personagem, o reduzido número de microfones, as trocas de cena (entrada de mobiliário), muitos blacks (isso é muito pessoal porque eu não gosto e não uso blackouts, exceto o final. Uma escolha cênica minha.); a não utilização, ou uso incorreto de microfonação.
Existem deficiências no espetáculo: a falta de projeção vocal do elenco, uma forma exagerada de falar o texto, a articulação que, quando amplificada, fica ainda mais evidente, os números coreográficos, personagens caricatos num timing fora do restante do elenco e os abomináveis (para mim) cacos. Atribuo ao nervosismo da estreia alguma insegurança geral, que resultou no atravessar algumas vezes a música. Mas o elenco se ajudou mutuamente e apesar de haver um protagonista, ele não procura se sobressair aos demais.
Em seus quase 120 minutos, o musical não cansa, mas parece longo por conta da encenação recortada por entradas, saídas e blacks.
Fiquei feliz em ver a plateia cheia, apesar do público mal educado que chega atrasado, conversa durante a sessão, consulta suas mensagens e privilegia o registro (até selfies após o apagar das luzes) à experiência de se entregar a um momento que não deixa de ser mágico.
O Grande Show é corajoso. Mesmo caminhando num terreno já pavimentado, conduzido por pessoas que gostam e conhecem musicais, é um fato importante sua montagem. Que toda sua equipe entenda o enorme passo que estão dando e se dediquem muito. Estudem, preparem-se física, técnica e emocionalmente; estejam sempre buscando saber mais, aprender mais, ensaiar mais, entender que muitas portas serão batidas e muitos "não" ouvidos, mas como diz a canção de vocês: "o impossível se torna possível".
O Teatro é exigente. But the greatest show must go on!
10 de Agosto de 2018.
[1] Um cara de Teatro.
Ficha Técnica
Elenco:
Amanda Borja, Ana Ferris, Andrew Monteiro, Carol Lacerda,
Diana Lins, Felipe Fernandes, Gabriela Burlamaqui, Hiago Miranda,
Kailane Miranda, Keley Nunes, Lohane Takeda, Luiza Barros,
Marcy Ribeiro, Matheus Amorim, Rayane Trindade, Rubens Leal,
Sebastião Junior, Thalyson Moraes, Thiago Freitas,
Vinicius Fleury e Yago Damasceno.
Adaptação de Dramaturgia:
Erllon Viegas
Letras/ Versões:
Hiago Miranda
Direção:
Erllon Viegas e Luiza Imbiriba
Direção Coreográfica:
Larissa Imbiriba e Alana Pinheiro
Direção Musical:
Hiago Miranda e Alcântara Junior
Preparação de Elenco:
Paulo Jaime e Renan Delmontt
Produção:
Álvaro Souza, Larissa Imbiriba e Paulo Jaime
Técnico de Som:
Eduardo Reis
Técnico de Luz:
Patrícia Grigoletto
Cenografia:
Cláudio Bastos
Fotografia:
Marcelo Lobo
Assessoria de Imprensa:
Leandro Oliveira
Redes Sociais:
Hiago Miranda
Apoio:
Porpino Burger | Marcelo Lobo Mídia |
Escola de Teatro InCena | A Liga do Teatro | Ateliê Galeria
Realização:
Mirabolante
Maquinário de Teatro