E nasceu o... Boi Parazinho! – Por Carla Santos

16/06/2023

Montagem Teatral: A quase morte do boi Parazinho

Montagem: Fundação Cultural do Pará

Carla Cantos[1]

A quase morte do boi Parazinho foi uma grande realização cômica da Fundação Cultural do Pará. Escondido através de um texto de comédia, envolvendo palhaçaria e boi, a trama parece transparecer além disso, trazendo vestimentas e falas relacionáveis com os tradicionais personagens matutos do Teatro de Pássaros do Pará.

O espetáculo foi uma grande demonstração do estilo de teatro de rua, produzido culturalmente pelos alunos da fundação. Os atores se apresentaram em um dos palcos centrais do evento junino da Fundação Curro Velho, digo um dos palcos, pois no mesmo momento ocorriam programações simultâneas e ainda iriam ocorrer muitas depois do espetáculo do boi. O palco não era no estilo italiano, visto que o público poderia ficar localizado de frente, de lado, ou até mesmo quase atrás dos atores – aos espectadores mais ousados –, por se tratar de um ambiente onde havia passagem de gente, não era um palco fechado, e isso prejudicou de certa forma a ouvir algumas falas dos atores em cena.

A quase morte do boi Parazinho foi um espetáculo rico em visualidade! Como mencionei anteriormente, em vários momentos da peça me peguei relembrando a postura dos matutos nos Teatros de Pássaros, as vestes dos personagens do espetáculo do boi eram em muito semelhante a daqueles personagens, com roupas de tecido grossos como a chita, e com personagens que representavam fazendeiros e agregados. Os únicos que se destacavam com vestimentas diferentes das demais eram: a personagem Matinta Pereira, que mantinha as suas tradicionais vestes escuras, o mágico e o veterinário. Além de tudo isso, todos, exceto a Matinta, usavam maquiagem e nariz de palhaço.

Essa finalização era da oficina de prática de montagem clown, portanto, era de se esperar as vestes, maquiagens e narizes cômicos e de palhaços, mas além disso tudo, o diretor, Ruber Sarmento, conseguiu homenagear a cultura de seu estado em uma época mais do que propicia para isso, a época junina, das grandes montagens de bois e de pássaros.

Comentando sobre as partes técnicas, não há muito o que acrescentar; o espetáculo foi proposto pelos moldes de teatro de rua, portanto, acredito não ter tido iluminador nem sonoplasta, visto que a iluminação era a mesma do ambiente todo, que iluminava todo o salão da Fundação Curro Velho. Apesar de não haver uma sonoplastia técnica, a direção musical e os atores não deixaram a desejar em quesito musical, já que no início e durante o espetáculo foram cantaroladas músicas e tocados diversos instrumentos, que serviam tanto como musical, como para efeitos sonoros que adicionavam na comicidade das cenas.

O enredo e dramaturgia foi muito bem composto, com muitas rimas durante as falas que davam maior musicalidade e prendiam a atenção do público na harmonia das conversas entre os personagens – e também ajudavam como elemento cômico. Ademais, os atores estavam muito bem preparados e incorporados em seus personagens, passando muita credibilidade em cena, e também, como palhaços, fazendo com que o público também participasse, mesmo que pouco ou indiretamente, do enredo, a quebra da quarta parede era constante.

Um elemento impossível de não se comentar foi o boi Parazinho, que feito muito detalhado, com as cores tradicionais da bandeira do estado do Pará, com certeza roubou a atenção do público. O tripa do boi também fez jus ao seu preparo, cativando comicamente o público com as suas, diversas, quebras da quarta parede.

Concluindo, a Fundação Cultural do Pará entregou mais um trabalho de direção excelente, visualidade e dramaturgia impecáveis e harmônicas, em um formato de comicidade que se tornou atrativo para crianças, jovens e adultos de todas as idades, então fica aqui meus "parabéns" e que as montagens continuem através dos anos iniciando de forma qualificada muitos atores e atrizes de Belém que iniciam a sua trajetória no Curro Velho.

16 de junho de 2023

[1] Graduanda do Curso de Licenciatura em Teatro; Participante da oficina de crítica teatral "Exercícios de escrituras" – Projeto Tribuna do Cretino;

Ficha Técnica:

A quase morte do boi Parazinho

Fundação Cultural do Pará

Elenco e Banda:

Italo Pacheco, Bia Parawara, Laura Lrizzutte, Yuri Verbo,

Pedro Lindermayer, Dani Quintanilha, Kyra Days,

Gustavo Cruces, Ikarus, Wesley Rosário.

Música:

Armando de Mendonça

Direção Musical:

Mika Nascimento

Direção Geral:

Ruber Sarmento

Realização:

Fundação Cultural do Curro Velho

Apoio:

Fundação Cultural do Curro Velho