Manifesto do Partido Antifacebookista – Por Arthur Ribeiro

28/01/2018

Montagem Teatral. O Homem e o Cavalo.

Montagem de conclusão dos cursos técnicos da ETDUFPA - Cenografia, Figurino e Ator. 

Crítica publicada originalmente no blog O Teatro como ele é https://oteatrocomoelee.wordpress.com/2018/01/28/manifesto-do-partido-antifacebookista/

Arthur Ribeiro[1]

Povo de Santa Maria de Belém do Grão-Pará! Cidadãos de Belcity! Usuários do sinal de NavegaPará da Biblioteca do Centur e todos os outros serviços internéticos estatais que não funcionam como deveriam!

Eu, Arthur Ribeiro Costa e Silva, um acidental filho de ditador que teima em não ser filhote da ditadura, na qualidade de crítico-blogueirinho-cretino-chato-do-contra-que-só-quer-falar-mal, conclamo a todos para abandonarem seus computadores, seus celulares e seus smartphones. Abandonem o Facebook, senhoras e senhores! Abandonem o Facebook!

Essa ferramenta, senhoras e senhores, que passou nos últimos anos por ascensão vertiginosa tanto na escala de importância cotidiana em nossas vidas quanto no ranking das empresas mais valiosas e poderosas do mundo - vocês se surpreenderiam em saber das relações entre esses dois crescimentos! -, essa ferramenta, repito, a despeito da oportunidade reluzente que nos oferece de registrar nossa vida e nossos gostos publicamente, de repercutir nosso pensamento em um aparente pé de igualdade com todas as outras instâncias geradoras de conteúdo do planeta, de receber feedbacks quase imediatos de um amplo grupo de pessoas que de outra maneira talvez sequer se lembrasse de nossa existência, essa ferramenta, repito, a despeito de tudo isso, vem nos ocupando com ilusões!

Sim, senhoras e senhores. E essas ilusões nos envolvem de tal forma que não percebemos toda a miríade de sustentáculos pelos quais o Facebook atua. Não percebemos, senhoras e senhores, que passamos boa parte de nosso dia ocupados com pautas que muito pouco interferem em nossa vida real. Não atentamos, senhoras e senhores, para o fato de que essas pautas se sucedem indefinidamente, movimentadas por algoritmos traiçoeiros que caçam atenção em forma de cliques e likes, e são substituídas dia a dia de modo a nunca nos deixar sem algo para debater, em um círculo vicioso muito semelhante ao modo de ação das drogas no sistema nervoso central. Não reconhecemos, senhoras e senhores, que somos por isso instados a aderir e refutar valores que não são os nossos, mas fabricados por outros, de modo que nosso repertório axiológico resulta difuso e contraditório. Não enxergamos, senhoras e senhores, que, com isso, não nos aproximamos, e sim nos distanciamos, de uma ação política prática pragmática praxiológica efetiva.

Não quero com isso dizer, senhoras e senhores, que todos vocês são insolúveis alienados, alegres títeres do poder, vaidosos inveterados. Não, senhoras e senhores. Quero, na verdade, fazer despertar em vocês toda a capacidade revolucionária que sei que cada um de vocês possui dentro de si. Quero, na verdade, mostrar que vocês são a base que sustenta e é explorada por um sistema que só pode existir justamente porque explora vocês, e que, por isso, precisa ser tomado das mãos dos proprietários dos meios de produção digitais e, por meio da ditadura do proletariado virtual, passar a ser gerido pelos detentores da força de trabalho online!

Mas as senhoras e os senhores provavelmente me perguntarão, confirmando sua inquestionável solidez intelectual, subaproveitada pelo uso constante do Facebook: por qual caminho devemos ir para recuperar nossa verve revolucionária? Que ferramenta podemos por no lugar da odiosa rede social para voltar a nos encontrar como indivíduos conscientes de seu alvo? Pois eu, senhoras e senhores, não lhes deixarei sem resposta, embora certamente não seja uma resposta simples, nem elementar, nem tampouco comum. A via de escape do Facebook, senhoras e senhores, é o TEATRO!

Sim, senhoras e senhores. Essa entidade mística, desafiadora de percepções, que consegue ser comercial e transcendental - muitas vezes ao mesmo tempo! - existe em nossa cidade, e - vocês se surpreenderão com isso, senhoras e senhores! - coloca peças em cartaz quase todos os finais de semana! Não falo das famigeradas peças experimentais, que vocês, senhoras e senhores, acostumaram-se a ver repercutidas no Facebook, principalmente por grupelhos de ideologia duvidosa, que fazem uma suposta crítica da degeneração cultural, que nada mais é do que mais uma ilusão das quais já os alertei. Falo, senhoras e senhores, de montagens referenciadas na cultura brasileira e mundial, com dramaturgias assinadas por nomes como Alfred Jarry, Ariano Suassuna, e até mesmo, senhoras e senhores, nosso ídolo da arte moderna Oswald de Andrade!

Agora mesmo ouço falar que está em cartaz, senhoras e senhores, uma peça cujo texto é de autoria de nosso tão amado e idolatrado Oswald, chamada O homem e o cavalo. Razão pela qual, senhoras e senhores, não perco tempo, e de imediato convoco todos a irem ao Teatro Claudio Barradas. Tenho certeza que perceberão imediatamente a grande diferença entre perder tempo e energia no Facebook e dedicar seu olhar para um espetáculo como esse. Certamente, senhoras e senhores, não encontrarão na peça uma miríade de imagens a se sucederem confusa e vertiginosamente, e sim um elo dramatúrgico e discursivo muito bem reconhecível e apreciável, diferente do que temos no Facebook. Com certeza notarão a diferença, senhoras e senhores, entre o tom monocordicamente inflamado e agressivo, que se tornou a regra para se expressar no Facebook, e o desenho cômico suave e surpreendente da encenação. Provavelmente não verão no espetáculo, senhoras e senhores, o debate político preguiçoso, rasteiro e desinformado que nos acostumamos a travar na rede social, pois é evidente que a peça propõe um olhar inovador sobre questões políticas, movimentando a melancólica imobilidade em que nos encontramos, presos a uma figura redentora messiânica que não é, na prática, diferente dos outros jogadores no tabuleiro do poder.

Lembrem-se apenas, senhoras e senhores, de que fazer é muito mais difícil do que criticar, e que, seja qual for a questão que se queira problematizar no espetáculo, o que importa é que o diretor decidiu mostrar daquela maneira. Portanto, não percam tempo, senhoras e senhores, com este expediente envenenado e infantil que é a crítica.

Tenho absoluta certeza de que, frequentando os teatros de nossa cidade e assistindo a peças como O homem e o cavalo, superaremos o maniqueísmo social ao qual as bolhas virtuais vêm nos relegando, apontaremos nossos dedos não mais para nosso próprio umbigo, mas para o grande inimigo que temos em comum, e, enfim, alcançaremos a síntese do processo dialético que constitui a luta de classes!

Avante, senhoras e senhores! Rumo ao socialismo!

28 de Janeiro de 2018.

[1] Ator e professor de Português; participante do minicurso "Por uma crítica menor".

Ficha Técnica:

Montagem: O Homem e o Cavalo

Direção de Atores e Encenação:

Paulo Santana e Marluce Oliveira

Direção de Visualidade:

Iara Regina

Criação de Sonoplastia e Cartaz:

Raphael Andrade

Operação e Criação de Sonoplastia:

Juliana Bentes.

Projeto de iluminação:

Bolyvar, Manu, Leo, Humberto e Luan

Operação de mesa de luz:

Bolyvar

Criação de Figurino:

Iara Mendonça, Isabella Vallentina, Rosiete Santos, Thais Sales.

Assistentes de Figurino:

Sônia Decolores, Juliana Bendes, Bruno Sacramento, Flávia Flor.

Criação de Cenografia:

Boliyvar Moreira, Léo Andrade, Luan Artpay e Manuela Dela. Humberto Malaquias.

Assistentes de cenografia:

Madu Santos, Paulo Bico, Winnie Rodrigues, Manuela Dela.

Elenco:

Aj Takashi, Jeff Moraes, Ysamy Charchar, Yuri Granha, Marvin Muniz, Loba Rodrigues, Igor Moura, Joed Caldas, Bonelly Pignatário, Felipe Almeida, Romana Mello, Luana Oliveira, Tarsila Amaral, Sandra Wellem, Hudson dos Passos, Ruber Sarmento, Enoque Paulino, Marina Lamarão, Renato Ferber, Helaine Sena, Marina Gusmão, Simon bayssat, Cinara Moraes, Enzo Burlos, Lucas Serejo, Valéria Lima,Leandra Lee.

Estagiários do Curso de Licenciatura em Teatro:

Isabella Valentina, Thiago Batista, Gabriel Luz, Tais Sawaki, Raphael Andrade e Joyse Carvalho.