No desequilíbrio do corpo-mente quem sai a ganhar é o Artaud – Por David Almeida Francisco Houana

18/09/2021

Montagem Teatral: Grupo Palha

Montagem: "Meu Nome é Ana"

David Houana[1]

No mundo a pandemia é tida como causa de mortes, para mim a pandemia é o motivo da minha decadência mental -

A Pandemia da corona vírus veio ao mundo para fazer diagnósticos da nossa saúde mental e revelar o pior das pessoas...

Num tempo como este quem daria um emprego a uma puta?

A prostituição é tão velha quanto o surgimento da humanidade, foi uma das primeiras profissões dos homens e das mulheres, atualmente a prostituição é uma questão vista como tabu na sociedade, os fazedores e fazedoras da prostituição são colocados à margem na sociedade e o vírus mortal vem não só para matar, mas também desmascarar e sublinhar os problemas adormecidos da sociedade.

A pandemia da Corona Vírus colocou os cidadãos de classe baixa numa situação de vulnerabilidade e as trabalhadoras de sexo não são a exceção.

Fui ao teatro em plena pandemia e me deparo com atriz Penélope Lima no corredor, emprestando o seu corpo a personagem Ana, uma mulher que vive em 2020/2021 e foi obrigada a cumprir o isolamento social imposto pelo governo, no âmbito de sanar a contaminação do Corona Vírus. Do corredor, Ana sai do quarto da sua filha Maria com um aspecto arruinado pela falta da luz do sol após muitos meses.

Logo nas preliminares a protagonista colocou à revelia todas as ações que aconteceriam por todo o espetáculo, e foi seguindo essa impressão que o espetáculo viveu preso a uma simbiose eterna que espantava qualquer forma de alternância e variações. A uniformidade da ação fez com que o espetáculo não tivesse nenhuma peripécia, surpresas ou pontos de viragem.

Não obstante, o vazio deixado pela linearidade das ações foi preenchido pela dramatização do cruel, ao que interpreto como inspiração dos princípios de Antonin Artaud e os princípios dramatúrgicos que se assemelham aos empregados pelo dramaturgo Franz Kafka.

A atriz detém um corpo leve, doutrinado e inteligente em palco, o jogo de cena era bem profundo, a Penélope Lima soube segurar o espetáculo até o fim da apresentação, explorando o espaço com propriedade. Ana vive faz a comparação e a confusão entre o real e o irreal, a personagem era-nos apresentada no contexto majoritariamente psicológico decadente.

À medida que o cenário avermelhado comovia e nos atravessava, ele legendava a carreira de Ana estagnada pela pandemia, a adoção da luz foi incrível, pois por si só já era um espetáculo. O diretor trabalhou com base no grande, as cenas extremante trabalhadas ao detalhe ao que poderia ser visto como o renascimento do barroco no contemporâneo.

A construção da cena foi feita seguindo os paradigmas simbolistas, cada centímetro, todo o figurino, a cenografia e os adereço eram elementos que nos levam a pensar em várias coisas, como o luto representado pelo pano preto que envolvia a criança de Ana.

No teatro havia uma fusão entre o palco e a plateia, era possível sentir a respiração da atriz e visse e versa, O fim da apresentação foi tomado pelos choros e abraços o que significa que o público se comoveu com apresentação.

18 de setembro de 2021.

[1] Artista moçambicano, professor, pesquisador, estudante do curso de Licenciatura em Teatro, área da Dramaturgia e Encenação.

Ficha Técnica

"Meu nome é Ana"

Dramaturgia:

Penélope Lima.

Com Penélope Lima interpretando a personagem "Ana".

Direção e Encenação:

Paulo Santana

Arranjo Musical:

Geraldo Sena

Músicas:

"A Estrela"

Gilberto Ichihara, baseado no poema de Manuel Bandeira

"Sob o estado de emergência"

Gilberto Ichihara

Criação e Execução de Visualidade e Sonoplastia:

Nelson Borges

Criação e Execução de Designe de Luz:

Malú Rabelo

Assessoria de Imprensa:

Leandro Oliveira

Arte Gráfica:

Raphael Andrade

Fotografia:

Bruno Moutinho

Produção:

Tânia Santana

Parceria:

Grupo de Teatro Palha

Apoio:

Centro Cultural Atores em Cena

Patrocínio:

Lei Aldir Blanc. Secult / Governo do Pará. Secretaria Especial da Cultura.

Ministério do Turismo. Pátria Amada Brasil / Governo Federal.