No desequilíbrio do corpo-mente quem sai a ganhar é o Artaud – Por David Almeida Francisco Houana
Montagem Teatral: Grupo Palha
Montagem: "Meu Nome é Ana"
David Houana[1]
No mundo a pandemia é tida como causa de mortes, para mim a pandemia é o motivo da minha decadência mental -
A Pandemia da corona vírus veio ao mundo para fazer diagnósticos da nossa saúde mental e revelar o pior das pessoas...
Num tempo como este quem daria um emprego a uma puta?
A prostituição é tão velha quanto o surgimento da humanidade, foi uma das primeiras profissões dos homens e das mulheres, atualmente a prostituição é uma questão vista como tabu na sociedade, os fazedores e fazedoras da prostituição são colocados à margem na sociedade e o vírus mortal vem não só para matar, mas também desmascarar e sublinhar os problemas adormecidos da sociedade.
A pandemia da Corona Vírus colocou os cidadãos de classe baixa numa situação de vulnerabilidade e as trabalhadoras de sexo não são a exceção.
Fui ao teatro em plena pandemia e me deparo com atriz Penélope Lima no corredor, emprestando o seu corpo a personagem Ana, uma mulher que vive em 2020/2021 e foi obrigada a cumprir o isolamento social imposto pelo governo, no âmbito de sanar a contaminação do Corona Vírus. Do corredor, Ana sai do quarto da sua filha Maria com um aspecto arruinado pela falta da luz do sol após muitos meses.
Logo nas preliminares a protagonista colocou à revelia todas as ações que aconteceriam por todo o espetáculo, e foi seguindo essa impressão que o espetáculo viveu preso a uma simbiose eterna que espantava qualquer forma de alternância e variações. A uniformidade da ação fez com que o espetáculo não tivesse nenhuma peripécia, surpresas ou pontos de viragem.
Não obstante, o vazio deixado pela linearidade das ações foi preenchido pela dramatização do cruel, ao que interpreto como inspiração dos princípios de Antonin Artaud e os princípios dramatúrgicos que se assemelham aos empregados pelo dramaturgo Franz Kafka.
A atriz detém um corpo leve, doutrinado e inteligente em palco, o jogo de cena era bem profundo, a Penélope Lima soube segurar o espetáculo até o fim da apresentação, explorando o espaço com propriedade. Ana vive faz a comparação e a confusão entre o real e o irreal, a personagem era-nos apresentada no contexto majoritariamente psicológico decadente.
À medida que o cenário avermelhado comovia e nos atravessava, ele legendava a carreira de Ana estagnada pela pandemia, a adoção da luz foi incrível, pois por si só já era um espetáculo. O diretor trabalhou com base no grande, as cenas extremante trabalhadas ao detalhe ao que poderia ser visto como o renascimento do barroco no contemporâneo.
A construção da cena foi feita seguindo os paradigmas simbolistas, cada centímetro, todo o figurino, a cenografia e os adereço eram elementos que nos levam a pensar em várias coisas, como o luto representado pelo pano preto que envolvia a criança de Ana.
No teatro havia uma fusão entre o palco e a plateia, era possível sentir a respiração da atriz e visse e versa, O fim da apresentação foi tomado pelos choros e abraços o que significa que o público se comoveu com apresentação.
18 de setembro de 2021.
[1] Artista moçambicano, professor,
pesquisador, estudante do curso de Licenciatura em Teatro, área da Dramaturgia
e Encenação.
Ficha Técnica
"Meu nome é Ana"
Dramaturgia:
Penélope Lima.
Com Penélope Lima interpretando a personagem "Ana".
Direção e Encenação:
Paulo Santana
Arranjo Musical:
Geraldo Sena
Músicas:
"A Estrela"
Gilberto Ichihara, baseado no poema de Manuel Bandeira
"Sob o estado de emergência"
Gilberto Ichihara
Criação e Execução de Visualidade e Sonoplastia:
Nelson Borges
Criação e Execução de Designe de Luz:
Malú Rabelo
Assessoria de Imprensa:
Leandro Oliveira
Arte Gráfica:
Raphael Andrade
Fotografia:
Bruno Moutinho
Produção:
Tânia Santana
Parceria:
Grupo de Teatro Palha
Apoio:
Centro Cultural Atores em Cena
Patrocínio:
Lei Aldir Blanc. Secult / Governo do Pará. Secretaria Especial da Cultura.
Ministério do Turismo. Pátria Amada Brasil / Governo Federal.