O Brasil precisa conhecer o movimento da Cabanagem! – Por Escalafobética

06/08/2025

Montagem teatral: Batista em Corpo e Fúria

Montagem: Grupo de Teatro Palha

Escalafobética[1]

A história do Norte ainda é desconhecida país a fora. Um dos únicos movimentos populares que conseguiu tomar o poder além da revolução francesa tem nome: A CABANAGEM. As batalhas aconteceram na província do Grão Pará, nestas ruas de Belém do Pará, com lugares como pode ser citado dentro da Igreja do Carmo, bairro da Cidade Velha.

Cansados da truculência, violência, da miséria, imposta pelo colonizador, a população alijada, deixada á margem, à fome, composta por caboclos, indígenas, negros, se ergueu contra a tirania portuguesa, tendo como start a tragédia do BRIGUE PALHAÇO, onde centenas de pessoas foram aprisionadas no porão do navio "Brigue Palhaço", onde foi jogado a substância química cal, e trancafiados por 24 horas, esquecidos para sofrer e no dia seguinte estavam todos mortos, sendo a gota d'agua para o povo marginalizado.

É este o recorte da história de resistência contra a opressão colonizadora que na noite de 1 de junho de 2025, o Grupo de Teatro Palha, sob a direção do inexorável, invencível Paulo Santana, pela primeira vez proporcionou ao público de Barcarena, que lotou a Comunidade N.S. da Conceição, bairro Nazaré (Rua João Panto de Castro nº50, Barcarena, Município do Estado do Pará.

OBRA

O espetáculo "Batista em corpo e fúria" é adaptação da obra literária, Batista, de Carlos Correia Santos, que traça a trajetória do Cônego João Batista Gonçalves Campos, que foi um dos mentores intelectuais do movimento/revolta da cabanagem, que era nascido no Município do Acará, região do baixo Tocantins, deste Estado do Pará.

CENÁRIO

Palheta em tons pasteis, sobre folhas secas, sob uma luz amarela, em dado momento, bonecos amarrados impressionam, pois, dão o impacto de pessoas enforcadas, torturadas.

Há também a cela, um quadrado feito com material que parece madeira, remete a uma jaula, retrata a masmorra á que foi trancafiado após sua captura.

Sob este cenário, sob fortes trovoadas, no centro da jaula/ masmorra, surge BATISTA interpretado por Stéfano Paixão, amarrado, num emaranhado de cordas e nós, símbolos da tortura, no cárcere. Após o prólogo o público é convidado a se posicionar na arena.

Stéfano Paixão empresta seu corpo, sua mente, seu espírito, sua voz ao herói Batista Campos, sobretudo o humaniza, traz as reflexões, perturbações de alguém que ousou questionar, e foi preso, torturado e morto, pois desejava ver a si e seu povo livre das opressões. Batista, sonha, ousa, pega em armas, luta e brada o grito de resistência, vira mártir.

Surge um Cabano, interpretado por Kezynho Houston que, por sua vez, traz um jogo de corpo, um preparo físico e mental que prende o fôlego. Há conexão entre ambos, num jogo dramático intenso. O CABANO é indomável, gestos brutos, animalescos. A atmosfera arrebata, chega a fazer o efeito de instintivamente prender a respiração sem perceber, é densa, é pensante, é provocativa, angustiante; em momentos a estrutura range, cambaleia remete ao movimento de barco, de navio, posteriormente torna-se capela, noutras parece floresta.

Nesse quebra cabeça, acontece a desconstrução do conceito de tempo e espaço, pois os acontecimentos não têm narrativa linear, o centro são as memorias, impressões, devaneios da mente do protagonista provocados pelo horror.

E a plateia é sequestrada! Pois sobretudo são temas humanos complexos, a fome, a guerra, a tortura, poder, opressão, status social,

DA CARACTERIZAÇÃO

Figurino de ILA FALCÃO, traduz-se em uma poética extraída da miséria, escassez, do sujo, da dor; utiliza tecidos gastos, pesados, desbotados, rasgados, em tons marrom, bege.

Maquiagem de Nelson Borges, que, com mão certeira, compõe o tom equilibrado para o elenco.

Senti uma energia, um arrepio, um nó na garganta, vi olhos esbugalhados, respirações suspensas, algumas lágrimas. Imediatamente após o último bradar, e o desaparecer na escuridão, a plateia explodiu em aplausos de pé, onde surge, Paulo Santana grita: "Viva o teatro!"

O Brasil tem que conhecer essa parte da história do Brasil, Viva o povo Cabano!

TRAJETÓRIA DE RESPEITO

O Grupo de Teatro Palha está em cena há mais de 40 anos de existência e de resistência. Traz essa temática, acaba por jogar luz sobre temas que ainda são objeto de debate, a pobreza, a opressão das camadas mais pobres da região, a manutenção da ignorância como arma política, a criminalização de movimentos sociais, isso é atual.

O paraense, o Brasil e o mundo precisam conhecer esses personagens, essa história sob a ótica do caboclo, do paraense, e refletir que as coisas apesar de tantos séculos ainda não mudaram muito. A obra sobretudo provoca reflexão, isso é a subversão mais temida, por isso mesmo a arte e educação são tão atacadas.

"Batista em corpo e fúria" é visceral, é necessário ficou em cartaz de 13 a 15 de junho de 2025, na cidade de Barcarena, tendo passado pela Capital do Estado do Pará, Belém onde fora encenada no Teatro Waldemar Henrique e percorrerá cidades do baixo Tocantins, fruto de um edital.

06 de agosto de 2025

[1] Escalafobética é atriz, diretora, escritora, bailarina. Discente do curso de Licenciatura em Teatro. Bolsista PIBIPA 2025 pelo projeto de extensão TRIBUNA DO CRETINO.  

Ficha Técnica

Batista em corpo e fúria

Livre adaptação da obra Batista,

De Carlos Correia Santos

Elenco:

Stéfano Paixão e Kezynho Houston

Figurino:

Ila falcão

Maquiagem e Sonoplastia:

Nelson borges

Iluminação:

Malu rabelo

Realização:

Grupo de Teatro Palha

Direção:

Paulo Santana

Produção:

Tânia Santos