Segredos aconchegantes dos sintomas e hematomas – Por Paulo Ricardo Nascimento

18/04/2023

Teatro de Caixa: Caixa de Poesia Leminski

Montagem: Coletivo de Animadores de Caixa

Paulo Ricardo Nascimento[1]

Experiência curiosa, essa. Não foi a minha primeira experiência com a Caixa de Poesia do Leminski, do Coletivo de Animadores de Caixa, com encenação e atuação de Edson Fernando. Isso, talvez, tenha provocado minha curiosidade para ver as outras cartas, olhar pelos outros buracos da caixa e devanear em outras poesias. Na encenação, o atuante convida para sentar em um banquinho na frente dele. Ele mostra uma caixa com umas 10 ou 12 cartas, como um baralho (plaquinhas de papel plastificado de uns 10 cm X 8 cm, mais ou menos), das quais se deve escolher uma sem saber o conteúdo dela. A partir dessa escolha, ele mostra uma outra caixa retangular, toda revestida de papéis impressos com textos (poesias, acho), com cerca de 10 a 12 buracos tampados e aponta qual deles, correspondente à carta escolhida, deve ser olhado.

Dessa vez, escolhi a carta do amor – soube depois de escolher. Foi, então, também uma experiência provocadora de uma espécie de aconchego feito só para mim. Tava lá dentro. Uma sensação de aconchego porque me colocou diante de um segredo meu, que ele me contou, que a poesia me revelou sobre mim. Um segredo bom, mas daqueles que se guarda só para si. Ele e o Leminsk (ele é o Leminsk?) me revelaram: Do amor conheço os sintomas e os hematomas. Mas… como ele soube desse segredo? Ele "chutou", só pode. Como uma lorota contada por outro, sem querer condiz com alguma verdade sobre mim? Isso não importa, era segredo nosso, estava guardado na caixa e ele não contaria por aí, assim espero.

Mas ao olhar pelo buraco, aquele segredo/poesia, estava olhando para um campo aberto de memórias minhas. Pareceu que eu estava olhando em um monóculo amarelado onde fosse possível ver diversas fotos caindo, uma na frente da outra, aguçadoras de memórias. O tempo da apresentação, das revelações (2 minutos?), se configurou como se fosse apenas o prólogo, porque agora quanto mais rememoro o momento de sentar no banquinho, mais memórias caem para mim, mais longe elas me levam, não apenas pelo que vi pelo buraco, mas também pelo que compõe o que envolve a olhadela: as cartas, a máquina de escrever, a caixa feita de folhas de papel impressas com textos, as palavras do condutor, o cheiro doce do incenso, o jardim onde estava, a música.

Mas, dizia da curiosidade que me deu. Preciso encontrar esse caixeiro outras vezes em algum canto sorrateiro, dispondo segredos poemados. Quem sabe me conta outros segredos meus que ainda não sei. Não venha me dizer para procurar as poesias e haikais do Leminsk, não será a mesma coisa. O segredo só aparece se ele te chamar sorrateiramente num cantinho de um caminho pouco usado e te disser para olhar por um buraquinho de uma caixa. Se tens problemas com os teus segredos, melhor não atender ao chamado ou quererás saber de outros.

18 de abril de 2023


[1] Participante da Oficina de crítica teatral "Exercícios de escrituras" – projeto TRIBUNA DO CRETINO.

Ficha Técnica:

Caixa de Poesia

Leminski

Encenação e Atuação:

Edson Fernando

Suporte:

Amor

Edson Fernando

Arte Externa:

Aníbal Pacha

Patrocínio:

O Bolso dos Idealizadores

e mais ninguém!!!