Trilogia Ao Cretino - Parte III: Quão cretino se pode ser! - Por Hudson Andrade.

08/01/2018

Hudson Andrade[1]

O Blog do Cretino nasceu do desejo do ator e professor Edson Fernando de discutir formalmente os espetáculos teatrais em Belém. Dele nasceu a Tribuna do Cretino, revista que traz a visão de vários críticos sobre espetáculos teatrais. Críticos! Quem os curte? Tem lugares onde falar, comentar, discutir sobre espetáculos pode significar a morte do trabalho. Imaginam esse poder todo na mão de um ponto de vista?! Por aqui, criticar é quase uma piada, um deboche! Sabem aquele clichê não conseguiu ser ator, virou crítico? É por aí! Daí o Edson Fernando decide criar um espaço reservado a ilustres e famosos Quems? de onde eles pudessem interpretar, questionar, pensar, discutir, debater, xingar, botar a boca no trombone, como se dizia antigamente. Nesse sentido, batizar a revista de Tribuna do Cretino não podia ser mais adequado, uma vez que por estes lados falar do trabalho alheio é efetivamente um atrevimento, um cinismo. Mas conhecendo o Fernando como conheço - fomos alunos da mesma turma, a Cobra-Grande, no curso técnico de ator da ETDUFPA - não me surpreende que ele não tenha receado dar voz a quem quisesse falar. Imaginam quão significativo isso é?!

Eu tentei fazer algo assim, no blog Cúria d'Arte, mas não tenho disciplina pra manter um trabalho assim. Até fiz uma breve formação em crítica teatral, breve mesmo, mas muito significativa. Eu ainda escrevo, vezenquando, mas sem grandes pretensões. Daí o Fernando me chama pra escrever esse texto comemorativo. Imaginam a honra e a alegria que isso é?! Pois bem, aqui estamos.

Como ator, dramaturgo e diretor teatral, vejo a cena teatral de Belém forte, resistente, plural. Sempre digo a quem fala que não tem pra onde ir no final de semana que sempre há espetáculos em cartaz. São tantos que não é provável ver todos. Alguns eu de fato não quero ver; tantos! Não à toa a Tribuna do Cretino se abre como um lugar para falar para quem não tem a possibilidade de acompanhar a profícua produção local. E já criou um hábito. Quando o Arthur (Ribeiro, do blog O Teatro Como Ele É) está na plateia, o elenco faz aquele comentário "aquele cara que escreve tá aí!" e quando o espetáculo termina "o que será que ele vai dizer?" Imaginam o quanto isso é importante?! Oxalá pudéssemos reconhecer todos e todas que escrevem pra revista, dizer deles "o fulano, a sicrana, que escreve está aí!" Ter um olhar de fora, totalmente de fora, avaliando nosso trabalho; isso pode ser apavorante, quiçá destruidor, mas incontestavelmente é uma possibilidade de crescimento, de amadurecimento.

Relendo o texto do Ribeiro sobre um dos espetáculos que eu dirigi, lembro como fiquei aborrecido com alguns comentários. Sou meio arredio com interferências no meu trabalho e imagino como deve ser isso pra grande maioria de nós, povo "cheio das pavulagem"? Mas reler esse texto - de 2015 - e outros, faz perceber que a crítica se torna memória e a memória pode se desdobrar em novas possibilidades na cena e para as cenas. Imaginam o quanto isso é extraordinário?!

Que venham muitas outras críticas, muitos outros críticos - um mais cretino do que o outro, pra falar pra nós desse dentro dos palcos que o teatro sobrevive nesse querer absurdo de continuar fazendo arte.

Pra isso eu, realmente, não tenho palavras!!!

08 de janeiro de 2018 AD


[1] Ator, Diretor e Dramaturgo. Fundador da Cia Teatral Nós Outros.