Um caminho por (ou para) Nártex – Por Francieli Santos

13/06/2023

Montagem teatral: A tríade divinal: Nártex

Montagem: Companhia Paraense de Potoqueiros

Francieli Santos[1]

No dia 04 de junho, uma sessão extra foi aberta para "A tríade divinal: Nartex", sendo essa a terceira e última parte da tríade, inspirada na "Divina Comédia", de Dante Alighieri. Acredito que foi possível mais uma apresentação devido ao seu sucesso nas sessões anteriores.

É uma peça que conta com a direção de Breno Monteiro e Lauro Sousa, da Companhia Paraense de Potoqueiros, pensada e ambientada no Espaço das Artes. Devo dizer que me surpreendi com o espaço, talvez por ser a primeira vez que estive ali, mas fiquei ainda mais admirada com o modo pelo qual foi organizado o espaço de atuação, já que o casarão não parecia ser tão grande, o "palco" ficou demarcado por finas e longas cortinas, como uma grande caixa retangular de panos, com aberturas nas laterais e nos meios, que eram por onde entravam e saiam os atores. Essas cortinas eram acompanhadas de refletores azuis, que criavam uma sensação diferente, como se algo fora da realidade fosse acontecer. A sonoplastia só somava à essa ideia, porque entoava uma melodia leve, meio etérea. Ainda por cima, o ambiente era tomado por aromas que pareciam provir de incensos perfumados. Antes mesmo de a peça começar, todos esses detalhes já me deixaram curiosa para saber como tudo aquilo funcionaria.

A plateia estava organizada em fileiras, que ficavam dispostas uma de frente para a outra, mas com espaços entre elas, de modo que formavam corredores. Já dava para notar que de alguma forma os espectadores estariam envolvidos com o que viesse a ser a apresentado ali.

O espetáculo começa; as luzes mudam e personagens vão entrando, com esferas brilhantes nas mãos, recitando trechos conhecidos do livro sagrado. Momentos depois, quando aquele que parece ser o protagonista, começa a andar em direção de cada um que segura sua luz, um ecoar de vozes começa a se formar, um embaralhado de falas que reproduzem as dores do homem na terra, sofrimentos, angústias, injustiças...

Assim começa a trajetória do herói, em busca de respostas, se deparando e se confrontando com narrativas de outras vidas que já foram vividas, as quais poderiam até retratar temas ultrapassados, mas que abordou muito bem os problemas ainda persistentes do nosso século. Após se deparar com cada vida e encarar de frente aquele o qual buscava, aquele o qual achava trazer respostas, o protagonista chega a uma resposta, uma resposta sobre a vida, uma resposta sobre si. O que também nos leva a buscar por respostas, trazendo reflexões sobre assuntos importantes, sobre a sociedade, sobre nós.

Tudo pode ser resumido como um belo espetáculo, do início ao fim. Nártex foi muito bem desenvolvido e muito bem interpretado por todos. O elenco se fez de uma sensibilidade ao interpretar seus papéis – que se dividia em vários outros – de modo tão profundo, que as emoções pareciam sobressair por vezes do personagem para o ator. O modo como a plateia estava inclusa dentro do espetáculo, parecia nos emergir um pouco mais para aquela realidade apresentada, parecia que podíamos sentir mais de perto o que nos propunham. Um exemplo disso, era os momentos em que corriam por entre as cadeiras, parecia nos trazer também para essa frenesi do jogo. A luzes se resumiam basicamente em azul e amarelo. Os figurinos tão simples quanto o cenário, porém não deixaram a desejar. A sonoplastia somava em cada momento, criando tensões diferentes (talvez tivesse que dar uma pequena atenção nas passagens de som). Mas por fim, tudo resultou em um grande espetáculo.

Eu só conhecia a "Divina Comédia" de ouvir falar, mas agora o conheço – mesmo que um trecho – de ver. Nártex é uma adaptação que eu pagaria para ver de novo.

13 de junho de 2023


[1] Graduanda do curso de Produção Cênica, Turma 2022; participante da oficina de crítica teatral "Exercícios de escrituras" – Projeto Tribuna do Cretino;

Ficha Técnica:

A tríade divinal: Nártex

Companhia Paraense de Potoqueiros

Elenco:

Eliane Gomes, Érika Mindelo, Fernandu Sarmento, Kate por Deus, Lennon Bendelak, Leonardo Sousa, Luana Oliveira, Nilton Cézar e Ruthelly Valadares.

Direção:

Breno Monteiro

Dramaturgia:

Breno Monteiro e Lauro Sousa

Iluminação:

Breno Monteiro

Sonoplastia:

Lauro Sousa

Cenografia:

Lucas Belo

Visagismo:

Thaís Sales

Figurino:

Lucas Belo

Produção:

Lauro Sousa

Realização:

Companhia Paraense de Potoqueiros

Apoio:

Espaço das Artes de Belém