Visualidade-Ideograma e pouco Corpo e Fúria - Por Raphael Andrade

28/08/2021

Montagem: Batista em Corpo e Fúria

Montagem Teatral: Grupo Palha

Raphael Andrade[1]

Apesar de (quase sempre) escrever texto prolixo, serei sintético nestas singelas linhas, tal qual foi apresentada a obra Batista em Corpo e Fúria, nos seus 40 minutos da Mise en scène.

O princípio freudiano desvela indelevelmente que "o pensamento visual se aproxima mais dos processos inconscientes que o pensamento verbal", é o que imaginei na tentativa falha (já explico) que nós temos de nos meter na dramaturgia/encenação/atuação alheia. Não é o que acontece na concepção do espetáculo Batista em Corpo e Fúria. Mas, se assim o fosse, a conceituação entre a bela estética recheada de símbolos e signos metafóricos (ou não) dariam uma potência objetiva em cena, isto é, a verborragia do texto (que é igualmente importante por circunscrever o processo histórico-cultural-narrativo do acontecimento), a meu ver, muitas vezes atrapalha a concepção da arquitetura cenográfica/corporal árida e simbólica da estrutura arquitetada da apresentação, que poderia ter focado mais na linguagem corporal de ideogramas, pois o corpo fala além do som produzido pelas pregas vocais.

Ao tentar fazer uma análise sintética, pensei: Está tudo na visualidade! E quem pôde ler o release da obra, sabe o que estou tentando externalizar. Aliás, essa proposta é vista potentemente no olhar apurado e sígnico do encenador Paulo Santana, que tem uma assinatura de decifrar os significados e os significantes dos seus processos estéticos, no qual por ser tão ele, parece um Déjà vu Santanino, em que reverbera na corporificação seminal e quase onírica da direção de seus atuantes. Apesar de não ter visto muito a sua mão ali, nem no texto adaptado, nem na atuação; conquanto vê-lo no cerne da visualidade.

O ator dirigido pelo Paulo precisa ter cuidado para não ser engolido pela visualidade cenográfica que o mesmo propõe, não é o que acontece nas atuações dos dois atuantes nesta peça, contudo, pequenas falhas acabam sobressaltando aos olhos, seja pela disposição da cena, a qual não há uma triangulação na tridimensionalidade proposta da altura, largura e profundidade e que, concomitantemente, atrapalha no entendimento do texto (audível) e na expressão dos dois atores.

Ao referir atuação, há uma ritualidade de um código reprimido, que mostra muito a religiosidade do cônego Batista e tensiona muito pouco seu lado cabano resistente e revolucionário, permeado por uma visão histórica de uma persona ambulando no pretérito de suas memórias. A atuação que me pareceu psicológica do personagem principal, passa a maior parte das suas ações lembrando causos que, às vezes, parece mais uma "bengala" em cena do que propriamente uma intensão enérgica introspectiva de Batista.

Para finalizar este breve relato, como bem disse no começo do texto, Batista se agiganta ao dar voz à história desse revolucionário paraense, que muitos só sabem que existiu por conta de uma praça no centro da cidade com o mesmo nome. E o final da apresentação, numa simbiose onírica/real/desoladora, lembra-nos da tragédia do Brigue Palhaço, que possibilita fazer uma analogia ao que vivenciamos hoje, embora a cal virgem jogada entre os corpos se converta num epitáfio real contemporâneo, replicando a insanidade obscurantista do poder (necro)político vigente, lembrando-nos, potencialmente e insurgentemente, que precisamos ser resistência em Corpo e Fúria!

28 de agosto de 2021


[1] Professor-artista-pesquisador. Especialista em Arte e Educação e mestrando em Artes.

"Batista em Corpo e Fúria"

Livre adaptação da obra "BATISTA" de Carlos Corrêa Santos

Com Stéfano Paixão no papel de Batista Campos

e Kesynho Houston no papel de índio, caboclo, soldado

Adaptação:

Stéfano Paixão e Paulo Santana

Direção e Encenação:

Paulo Santana

Sonoplastia e Visagismo

criada e executada por Nelson Borges

Visualidade:

Nelson Borges

Confecção de figurino:

Ila Falcão

Adereços e Estandarte:

Marcele Engelke

Designe de luz:

Criado e operado por Malu Rabelo

Assessoria de Imprensa:

Leonardo Oliveira

Arte Gráfica:

Raphael Andrade

Fotografia:

Walda Marques

Produção:

Tania Santana

Realização:

Grupo de Teatro PALHA

Projeto realizado por meio da Emenda Parlamentar do deputado Edmilson Rodrigues. Belém Pará-2019-Ministerio da Educação - Pátria Amada Brasil - Governo Federal - PROEX - Pró-Reitora de Extensão \UFPA - FADESP - Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa.

Apoio Cultural:

Centro Cultural Atores em Cena/ Teatro Experimental do Pará "Waldemar Henrique" /Fundação Cultural do Estado do Pará/Ester Lanches.